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Palavra do Bispo | Ordenação Presbiteral

Ordenação Presbiteral

ORDENAÇÃO SACERDOTAL

 

Leandro Fonseca Melo – Leonardo Félix dos Santos –

Rafael Rodrigues Xavier – Victor Almeida Moreira da Silva

 

Catedral de Sant’Ana – Mogi das Cruzes – 23 de junho de 2018

 

 

“Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor” (Sl 88/89). Esta oração é, antes de tudo, um canto de louvor pelas maravilhas que o Senhor realiza em cada ser humano; um hino de ação de graças pela salvação que Deus opera na história da humanidade; uma prece de gratidão pela vida e pela missão da Igreja de Jesus Cristo; e pela bondade e amor com que o Senhor escolhe e chama, na Igreja, cada batizado e aqueles que designa para serem seus mensageiros e seus ministros, consagrando-os com o óleo da unção e fazendo deles seus sacerdotes.

 

Bendito seja o santo crisma, óleo da alegria, bom perfume de Cristo, com o qual serão ungidas as mãos desses quatro irmãos – Leandro, Leonardo, Rafael e Victor – ao receberem a ordenação sacerdotal. Pela imposição das mãos e a invocação do Espírito Santo, vão se tornar ministros do Senhor, servidores de Cristo e da Igreja, “para a santificação do povo fiel e para oferecer a Deus o Santo Sacrifício” (prece da unção das mãos).

 

No Antigo Testamento, Isaías proclamou: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu; enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres (Is 61,1). A expressão “ungiu e enviou” significa que da unção decorre a missão; e, desse modo, a unção sacramental torna os ministros ordenados participantes da consagração de Cristo em sua tríplice missão: profética, sacerdotal e pastoral.

 

A missão profética torna os presbíteros servidores e anunciadores da Palavra de Deus, que é verdade para orientar os que erram, luz para dissipar as trevas do pecado, esperança para os pobres, consolo na tristeza, sabedoria e salvação de todo ser humano.

 

A missão sacerdotal é a de abençoar e santificar o povo de Deus. É o múnus que liga estreitamente o ministro ordenado à sagrada liturgia, ao culto divino, ao altar de Cristo. Para isso, os presbíteros recebem o encargo e a graça de presidir à celebração dos sacramentos, “incorporando os seres humanos ao povo de Deus pelo Batismo, perdoando os pecados em nome de Jesus Cristo e da Igreja pelo sacramento da Penitência, confortando os doentes com a sagrada Unção” (Pontifical: homilia). O múnus sacerdotal faz dos ministros “fiéis dispensadores dos santos mistérios” (cf. prece de ordenação).

 

“Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec” (Sl 109/110). Esse salmo proclama a fidelidade de Deus à aliança firmada com seu povo, por meio de seus ungidos e consagrados. Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote, pela oferenda do seu corpo e de seu sangue, sela a nova e eterna aliança, cujo memorial se renova na celebração do Santo Sacrifício Eucarístico, no qual o ministro ordenado “recebe a oferenda do povo santo para apresentá-la a Deus” (entrega do pão e do vinho).

 

A missão pastoral (múnus régio) configura o presbítero a Cristo bom pastor, no exercício da caridade. O apóstolo Pedro (2ª. leitura) exorta os presbíteros a serem pastores do rebanho de Deus, cuidando dele com coração livre e generoso, sendo modelos do rebanho (cf. 1Pd 5,1-4), em nome de Cristo, o “pastor supremo” (v. 4) e cabeça da Igreja.

 

Ser pastor segundo o coração de Cristo é ter como critério o mandamento maior: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Mandamento maior é o amor; amor maior é o que dá a vida: “ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). Cristo chamou seus discípulos de amigos. E deu a vida por eles, por sua Igreja e por toda a humanidade. Exortou-os à perseverança, mesmo nas tribulações, quando disse: “permanecei no meu amor” (v. 9), “para que minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja plena; para produzirdes fruto e para que o vosso fruto permaneça” (vv. 11.16).

 

O Espírito Santo é o amor do Pai com o qual o Filho é amado e ama o ser humano: “assim como o Pai me amou também eu vos amei” (Jo 15,9). No amor, os membros da Igreja se reconhecem como discípulos de Cristo, segundo as palavras do próprio Cristo: “nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,35). A missão da Igreja é anunciar e testemunhar esse amor verdadeiro. A Eucaristia é a síntese do infinito amor de Deus Pai, do amor de Cristo que se traduz em serviço e doação total da própria vida; e do dinamismo, beleza e eficácia do amor fraterno, dom do Espírito Santo.

 

Tudo na Igreja expressa o grande mistério do amor de Deus: o povo congregado e seus ministros servidores, a Palavra proclamada e os sacramentos celebrados, a efusão dos dons do Espírito Santo, a caridade sincera: o Reino de Deus germinando qual semente em terra boa. No pão e no vinho, frutos da terra, da videira e do trabalho humano, tudo é apresentado, representado, atualizado e transformado em pão da vida e cálice da salvação. Todos os dias, em todos os lugares e em todos os altares, Deus se faz tudo em todos. Cristo é o sacerdote e o sacerdote é outro Cristo. O povo é santo, mesmo sendo pecador, pois recebe do Pai o abraço, o anel, a sandália e a roupa nova do perdão. A Eucaristia é fonte que sacia a sede e é mesa em torno da qual os famintos são saciados, os humilhados exaltados e os pobres acolhidos. No Reino de Deus, não há nem últimos nem primeiros; todos são irmãos.

 

Queridos filhos! É grandiosa a escolha que fazeis e a missão que abraçais, porque grandioso é o mistério de amor nelas contido. Somos servidores desse mistério profundo e inefável, que é o próprio Deus. Contudo, São João evangelista afirma que, no amor, se conhece a Deus, porque Deus é amor. Em seu mistério inexprimível e inatingível, o amor se revela e aproxima através do Filho, imagem visível do Deus invisível. Mediador do mistério, o sacerdote torna visível o amor de Deus e, por seu testemunho, sustenta a fé e irradia esperança. Ombro amigo, mãos operosas, coração solidário, lá está o padre junto às pessoas, às famílias, aos pobres. Vai ao encontro para consolar os que choram, libertar os cativos, curar as feridas da alma, aliviar a tristeza com o óleo da alegria.

 

No decorrer de vossa vida, fostes descobrindo tudo isso. Em resposta ao chamado, com esmero vos preparastes no tempo de seminário, de faculdade, na pastoral, na missão. Sobretudo, nesses últimos meses, exercendo o ministério diaconal, destes um belo testemunho daquilo que a palavra de Deus inspira nesse momento profundo e abençoado, mostrando-vos solícitos e dedicados ao povo que o Senhor vos confiou. A ordenação sacerdotal marca um novo início, uma nova etapa, e descortina um novo horizonte. Com efeito, descobristes vosso tesouro – Cristo, a Igreja, a vocação, o ministério – e por causa dele deixastes tudo. Vale a pena! Zelai por esse tesouro com apreço, amor e perseverança, pois “onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (cf. Mt 6, 21).

 

O silêncio interior profundo proporciona paz aos nossos corações e a oração da Igreja aqui congregada, elevada a Deus qual fumaça do incenso, atrai as abundantes graças e bênçãos que estes irmãos necessitam para o ministério. Intercedam por nós a bem-aventurada Virgem Maria, mãe dos sacerdotes, nossa padroeira Sant’Anna e todos os Santos que serão invocados na Ladainha. Amém.

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 23 de junho de 2018