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Palavra do Bispo | Ordenação Diaconal

Ordenação Diaconal

HOMILIA PARA A ORDENAÇÃO DIACONAL DE

Ismael Almeida, Jonatas Diniz e Thiago Fragoso

Catedral Diocesana de Sant'Ana, Mogi das Cruzes

24 de março de 2018

 

Estimados irmãos no episcopado e no sacerdócio,

Distintas autoridades civis e militares,

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

 

Às vésperas do solene início da Semana Santa, a Diocese de Mogi das Cruzes se reúne, pela quarta vez, em três meses, nesta Igreja Catedral, para a Ordenação Diaconal de três candidatos que agora serão configurados de modo particular ao Cristo-Servo. São eles: Ismael Almeida Santana, Jônatas Pereira Diniz e Marnnyson Thiago Fragoso de Oliveira. Pela imposição das mãos e invocação do Espírito Santo, serão consagrados como diáconos, portanto, servidores da Palavra, do Altar e da Caridade.

 

Nas ordenações anteriores, foi possível recordar alguns princípios bíblicos e teológicos fundamentais acerca do diaconado, quais sejam:

 

Que pelo primeiro grau do Sacramento da Ordem, o diaconado, o Senhor elege e consagra irmãos para o exercício de um ministério todo particular: o serviço;

 

Que a palavra grega διάκονος significa “servo” ou “servidor” e define aquele que, na Igreja, exerce o serviço da caridade;

 

Que os eleitos são configurados a Cristo-Servo que dá a vida pela humanidade num ato supremo de amor ao oferecer-se em sacrifício na Cruz pelos pecados de todos;

 

Que na Igreja, o serviço não é mero dever, mas significa a natureza íntima e constitutiva do ministério diaconal.

 

E que vós, caros filhos, sereis ordenados diáconos para servir o Senhor Jesus naquelas três mesas das quais fala a Tradição: a mesa da Palavra, a mesa da Eucaristia e a mesa dos pobres. De fato, o Salvador fez dos pobres os destinatários preferenciais do seu anúncio de salvação. 

 

É significativo que nossa Diocese acolha esses três novos diáconos às portas da celebração anual do Mistério Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor. Amanhã é Domingo de Ramos e a Igreja celebra a entrada do Divino Mestre na Cidade Santa para realizar o que já anunciara de modo claro: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos” (Mc 10,45). Resolutamente, Cristo dirigiu-se a Jerusalém para completar sua missão salvífica com um testemunho definitivo de amor e serviço pela humanidade. 

 

Também vós, queridos filhos, que dentro em pouco sereis ordenados diáconos, abraçastes resolutamente a vocação para a qual Deus vos chamou. Como outrora Abraão, deixastes vossa terra e vossas famílias para partir rumo à terra que o Senhor iria indicar e onde hoje sois plantados como videiras escolhidas e destinadas a dar um fruto que permaneça (cf. Jo 15,16). O caminho de Jesus –bem o sabeis – foi muito árduo, como também não foi fácil o vosso itinerário até aqui. E o que vos aguarda, como outrora a Cristo e, no decorrer da História, a toda a Igreja, é o caminho da cruz que leva à ressurreição.

 

Há pouco, quando chamados pelo nome, respondestes com vigor: “Presente”. Com esta palavra decidida, exprimistes a disponibilidade de entrega completa e sem reserva ao serviço ao Senhor na Igreja. Trata-se de uma disponibilidade que encontra em Jesus Cristo o seu modelo perfeito: “Eis que venho, ó Senhor; com prazer faço a vossa vontade” (Sl 39,8-9), diz o salmista. Com efeito, o “sim” prestativo dos ministros sagrados deve espelhar-se na docilidade, no vigor e na responsabilidade do “sim” que Cristo deu ao Pai quando se dignou assumir a natureza humana para reerguer o ser humano que jazia como morto à beira do caminho da História (cf. Lc 10,30).

 

Na primeira leitura (Jr 1,4-9), Jeremias, ao relatar a sua eleição, recorda que cada ser humano é querido e amado por Deus de um modo individual e singular, pois o Senhor a todos conhece e os escolhe para participar da sua vida divina:“antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações” (Jr 1,5).

 

Através dessa singela e delicada imagem, o profeta faz pensar sobre o amor providente de Deus que conhece, ama e confia em seus eleitos. Vós também, caros filhos, fostes um dia chamados por Deus e hoje a Igreja vos consagra para uma missão nova a serviço do seu Povo. O Senhor, que vos consagrou pelo Batismo e pela Crisma, vos consagra hoje como profetas para anunciardes o Evangelho da salvação: não tenhais medo; não digais, como Jeremias, que sois muito novos, anunciai com coragem aquilo que o Senhor vos ordenou dizer, porque Ele estará convosco para vos defender (cf. Jr 1,7-8). 

 

Na segunda leitura (Rm 12,4-8), o Apóstolo São Paulo, escrevendo à comunidade de Roma, apresenta a diversidade de carismas e ministérios com que Cristo enriqueceu seu Corpo místico: a Igreja. Com essas referências, o apóstolo traça um resumo preciso do tríplice múnus do diácono e de toda a Igreja: a profecia, o serviço da caridade e o culto divino. Com efeito, ele afirma que “somos em Cristo um só corpo, sendo membros uns dos outros e temos dons diferentes, de acordo com a graça dada a cada um de nós” (vv. 5-6). Paulo prossegue elencando esses dons: a profecia, o ensino, o dom de exortar; de presidir e de servir – como distribuir donativos e realizar obras de misericórdia (vv. 6-8). E quem realiza tudo isso, “faça-o com alegria” (v. 8).

 

Na esteira de quanto diz o Apóstolo, o Rito de Ordenação dos Diáconos reza que na variedade dos dons celestes e na diversidade dos membros, Deus faz crescer com admirável unidade, pela força do Espírito Santo, o Corpo de Cristo, a Igreja. Tal riqueza de dons e ministérios Deus distribui largamente aos seus filhos para que sejam postos a favor do bem comum e do desenvolvimento integral da pessoa humana, dotada de espírito, alma e corpo (cf. 1Ts 5,23).

 

O Evangelho proclamado (Jo 15,9-17) recolhe um trecho do discurso de despedida, no qual o Salvador deixa seu testamento, que são os últimos ensinamentos antes de sua paixão e morte na cruz. Esse discurso tem lugar durante a Última Ceia, quando Jesus institui a Eucaristia e o Sacerdócio.

 

“Como o Pai me amou, também eu vos amei. Permanecei no meu amor”! (v. 9). Jesus está afirmando que os doze apóstolos e todos os fiéis na Igreja são destinatários de um amor grandioso porque espelhado no amor infinito de Deus pela humanidade. O amor que Cristo dedica aos Apóstolos é o mesmo amor com o qual o Pai O ama. Não se trata de um amor meramente humano, mas daquele amor íntimo que existe entre as Três Pessoas da Trindade, isto é, o amor divino que se revela na entrega da própria vida pelos amigos (cf. v. 13).

 

Cristo pauta o Seu amor no amor que Ele que recebe do Pai. E aos discípulos, especialmente aos ministros sagrados, exorta que amem com o mesmo amor que Ele demonstrou: amai-vos uns aos outros como eu vos amei (v. 12). No seu ato amoroso, Jesus arrasta os discípulos e a todos. Deste modo, pela ação dos ministros ordenados, o amor de Deus se irradia, espalhando no mundo o suave perfume de Cristo (2 Cor 2,15).

 

Jesus vai além. Seu amor tem um caráter humano, afetivo e familiar, conferindo aos discípulos uma nova condição: “vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos ordeno” (v. 14). E quem entende isso, com alegria e liberdade, segue o seu exemplo e faz o que Ele ordena. A condição para ser amigo de Jesus é fazer o que Ele ordena, pois, na obediência total às disposições da Providência, está o cerne da vida e da espiritualidade cristã. O discípulo, de servo que não conhece o que faz seu senhor, passa a ser amigo porque lhe foram revelados os mistérios do Reino de Deus (cf. v. 15).

 

Caros filhos, a amizade com Cristo leva a tomá-lo como modelo a imitar, na radicalidade dos conselhos evangélicos. Assim, além da obediência, sois chamados a realizar o ministério diaconal abraçando o celibato “por amor do Reino dos céus, a serviço de Deus e da humanidade” (cf. Ritual da Ordenação). O celibato é uma graça concedida por Deus aos seus eleitos, como sinal daquelas realidades futuras acenadas por Cristo no Evangelho e celebradas pela Igreja na liturgia.

 

Sede também assíduos na oração e na meditação da Palavra de Deus. Na Liturgia das Horas, a Igreja santifica e consagra os diversos momentos do dia, de modo a oferecer sempre a Deus um sacrifício puro de louvor. Rezai pelas intenções da Igreja e do mundo inteiro, em particular, pelos pobres, doentes, necessitados e pelo povo que o Senhor confia à solicitude do vosso ministério. A oração garante a perseverança no santo serviço, fortalece a vivência das virtudes e confirma o propósito dos diáconos “para que o exemplo de suas vidas desperte a imitação do povo” (cf. Oração Consecratória).

 

Contudo, a doação sincera comporta também enfrentar os sofrimentos, pois esses são inerentes à condição humana e à vocação que se abraça. Os sofrimentos têm valor enquanto purificam, amadurecem, tornam os ministros solidários com os que sofrem e lhes proporcionam tomar parte no que se deve completar às dores e à cruz de Cristo.

 

Em resumo: serviço aos pobres, perseverança na oração, vivência do dom do celibato, fortaleza diante dos sofrimentos, tudo isso são valores a cultivar, conselhos a assimilar, virtudes a praticar e metas a serem atingidas, no dinâmico processo da existência humana, da vocação cristã e do ministério específico. Tais conselhos vão na contramão de uma proposta hedonista e materialista da sociedade, mas encontram sentido no mandamento maior de Cristo: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei, [pois] ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,12-13). Jesus Cristo pronuncia estas palavras no contexto do lavapés, em que, sendo Mestre e Senhor, demonstra a essência da Sua missão: o serviço. Daí segue a Eucaristia, a Morte e a Ressurreição – o Mistério Pascal.

 

Por fim, irmãos e irmãs, elevemos a Deus nossa gratidão por estes três eleitos – Ismael, Jônatas e Thiago – que Ele chamou para servirem ao Seu povo como diáconos. Rezemos sempre para que o Senhor envie trabalhadores para a messe necessitada de tantos e bons operários (cf. Lc 10,2). Supliquemos a proteção de São José, de nossa padroeira Sant’Anna e do Beato Oscar Romero, recordando hoje o 38º aniversário de seu martírio, em El Salvador, no momento em que celebrava a Eucaristia. Interceda também por nós e pelos eleitos a Virgem Maria, Mãe da Igreja, modelo de docilidade e obediência. Amém.

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 24 de março de 2018.