Home

Palavra do Bispo | Homilia - Vigília Pascal

Homilia - Vigília Pascal

VIGÍLIA PASCAL

 

A vigília pascal é a celebração litúrgica do anúncio da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Trata-se da mais importante e significativa de todas as solenidades do Ano Litúrgico; para Santo Agostinho, esta é a “mãe de todas as santas vigílias” (Sermão 219: PL 38, col. 1088). Noite mais clara que o dia, em que a luz de Cristo resplandece das trevas da morte! A obra de Deus se realiza, quando a maravilha da criação se completa na maravilha da redenção. Deus Pai, em seu infinito amor, “amou tanto o mundo que entregou seu Filho único, para que o mundo seja salvo por ele (cf. Jo 3,16-17).

 

Na celebração da eucaristia da vigília pascal, se inserem dois grandes ritos: a liturgia da luz e a liturgia batismal. A da luz se faz com a benção do fogo novo, do qual se acende o círio pascal, com a solene proclamação: Eis a luz de Cristo! A batismal contém a bênção da água, a renovação das promessas do batismo e a celebração do batismo dos catecúmenos, isto é, aqueles que se prepararam para recebê-lo.

 

1.                Liturgia da luz: Eis a luz de Cristo!

 

A ressurreição de Cristo permite à humanidade passar da escuridão do túmulo ao sol que brilha sem ocaso, Cristo ressuscitado, a luz do mundo. O fogo novo abençoado representa o Ressuscitado que vem nos despertar à fé na vida nova, a vida eterna, que Ele manifestou na história humana e da qual nos faz participantes.

 

No primeiro dia da criação, Deus disse: “Faça-se a luz”. E a luz se fez; e a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas; chamou à luz ‘dia’ e às trevas ‘noite’. No quarto dia, Deus disse: “Façam-se os luzeiros no firmamento do céu”. Que os luzeiros resplandeçam no firmamento do céu e iluminem a terra; que sirvam para separar a luz das trevas.

 

Aquele primeiro dia da criação prefigura o primeiro dia do tempo definitivo da redenção, isto é, a madrugada da ressurreição, quando as mulheres, em primeiro lugar, depois os apóstolos, não só viram raiar do sol de um novo dia, mas, sobretudo, viram despontar o sol de um novo tempo para a humanidade pela vitória do Cristo na ressurreição.

 

2.                  Liturgia da Palavra.

 

Na vigília pascal são proclamadas sete leituras do antigo testamento, referentes às etapas mais importantes da história da salvação. E, do novo testamento, a epístola e o evangelho iluminam a meditação do mistério de Cristo, o mistério pascal. Na paixão, morte e ressurreição do Senhor, converge e se realiza toda a história da salvação.

 

A primeira das sete leituras, do livro do Gênesis, apresenta o belo relato da criação do mundo e do ser humano à imagem e semelhança de Deus. A segunda apresenta a figura de Abraão, pai do povo de Deus da antiga aliança e nosso pai na fé. O filho Isaac, poupado de ser sacrificado, é figura do Filho de Deus, imolado pela humanidade. A terceira, do livro do Êxodo, relata a libertação da escravidão do Egito, quando o povo hebreu, conduzido por Moisés, realiza a passagem do mar vermelho rumo à terra prometida.

 

O grande acontecimento de libertação do livro do Êxodo está na base da celebração da Páscoa dos judeus, que por sua vez está na base da Páscoa da nova aliança, selada por Cristo com seu próprio sangue, sendo Ele o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

 

Depois vem a pregação dos profetas. Baruc (sexta leitura) exorta: “ouve, Israel, os preceitos da vida, presta atenção para aprenderes a sabedoria. Quem descobriu onde está a sabedoria? Quem perscrutou seus tesouros?”. O Sl 18 responde: “A lei do Senhor é perfeita, conforto para a alma, alegria ao coração; para os olhos é uma luz. Suas palavras mais doces que o mel”.

 

Só o Senhor tem palavras de vida eterna e sua Palavra é eficaz. Sua sabedoria é lâmpada e luz a iluminar as sendas por onde nossos pés possam caminhar com segurança, daí que se suplica: “enviai, Senhor, vossa luz e vossa verdade, elas serão o meu guia” (Sl 42/43,3).

 

3.                  Liturgia batismal. Banhados em Cristo, somos nova criatura!

 

O livro do Êxodo (Ex 14,15-15,1) recorda que os hebreus se libertaram da escravidão do Egito ao atravessar o Mar Vermelho, “passagem que é símbolo do batismo, mediante o qual os fiéis, em Cristo, passam da escravidão do pecado e da morte à liberdade e à vida dos filhos de Deus” (Gabriel de S M Madalena, Intimidade Divina).

 

Também o profeta Ezequiel, na sétima leitura da vigília, preconiza o batismo: “derramarei sobre vós uma água pura e sereis purificados. Eu vos purificarei de todas as impurezas e de todos os ídolos. Eu vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós” (Ez 36,25-26a). Um coração de carne, o “meu” espírito, diz o Senhor. Trata-se do Espírito Santo. A água batismal lava o ser humano dos pecados e sacia-lhe a sede de água viva, que Jesus prometeu à samaritana (Jo 4,1-42) e a todos os seres humanos.

 

“A história da salvação, que culmina no mistério pascal de Cristo, torna-se história de cada pessoa, mediante o batismo que a insere em tal mistério” (Intimidade Divina). Paulo apóstolo afirma que fomos batizados na morte de Cristo e “pelo batismo na sua morte, fomos sepultados com ele, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também nós levemos uma vida nova” (Rm 6,4), isto é, “se, pois, morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele” (Rm 6,8).

 

A liturgia batismal celebra a vida nova dos batizados, seguidores de Cristo na Igreja, novo povo de Deus, povo messiânico, ungido, crismado. Pelo Batismo, o cristão participa da Páscoa de Jesus.

 

O relato de Mateus (28,1-10) anuncia que o túmulo está vazio. Anúncio de alegria, feito pelo anjo a Maria Madalena e a outra Maria, encarregadas de transmitirem aos discípulos e esses, por sua vez, com o mandato de transmitirem a todas as gerações. Disse o anjo: “não tenhais medo! Ele ressuscitou, como havia dito”. Em seguida, o próprio Cristo aparece e elas se prostram a seus pés, em atitude de adoração. “Alegrai-vos. Não tenhais medo. Ide anunciar a meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão”.

 

Galileia são todos os lugares, no mundo inteiro, onde as pessoas esperam receber o anúncio da ressurreição de Jesus Cristo, contemplar o amor de Deus e anunciar as maravilhas do seu Reino de paz e de vida, neste mundo e na eternidade, pelos méritos da Páscoa de Cristo, celebrada em cada vigília e no tempo pascal.

 

“Esta é a noite em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, se levanta vitorioso do túmulo". Santo Hesíquio (ano 451, monge, presbítero, I Homilia para a Páscoa, 1.5-6), proclama que “hoje, o paraíso foi aberto pelo Ressuscitado, Adão voltou à vida, Eva foi consolada, o chamamento foi ouvido, o Reino está preparado, o ser humano foi salvo, Cristo é adorado. Ele esmagou a morte a seus pés, aprisionou esse tirano, desbaratou a mansão dos mortos. Ele sobe aos céus, vitorioso como um rei ... Glorioso, diz a seu Pai: ‘Eis-Me aqui, e (comigo) os filhos que Me deu o Senhor’ (Heb 2,13). Glória a Ele, agora e pelos séculos dos séculos. Amém”!

 

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 15 de abril de 2017