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Palavra do Bispo | Homilia - 15/07/2023

Homilia - 15/07/2023

FRATERNIDADE DOS POBRES DE JESUS CRISTO

ORDENAÇÃO DIACONAL – 15 de julho de 2023    

 

Frei Angélico Consolo do Coração de Jesus, Frei Antonio da Paixão de Cristo, Frei Gabriel do Verbo Encarnado, Frei Iluminatto do Coração Sacratíssimo de Jesus, Frei Félix Cativo de Jesus Hóstia, Frei José Alegria do Menino Jesus    

 

Saudações! Dom Eduardo Vieira (Ourinhos)

Pe. Rafael (11 anos de ordenação – 15.07.2012)

Frei Tarcísio (superior)

Padres, diáconos, seminaristas, religiosas/os, irmãos/ãs    

 

1. Ano Vocacional 2023

A Igreja católica, no Brasil, está celebrando o Ano vocacional, com o tema “Vocação: Graça e Missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32-33). A ordenação diaconal de seis membros da Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo se insere neste contexto, confirmando a beleza da vocação e da missão, conforme os inumeráveis carismas que o Espírito Santo derrama sobre toda a Igreja e a cada um dos batizados.  

 

Caros filhos! A missão apostólica da Igreja não prescinde dos ministros ordenados. Tocados pelo encontro com o Ressuscitado, com os “corações ardentes e pés a caminho”, vocês abraçam, hoje, este caminho ministerial, depois de percorrerem um longo caminho de preparação.  

 

Hoje, rendemos graças a Deus pela vida e missão da Fraternidade dos Pobres de Jesus Cristo, com profunda gratidão aos fundadores, Pe. Gilson e Ir. Serva, renovando a fidelidade ao carisma de acolher os prediletos de Deus que são os pobres.  

 

Irmãos e irmãs! Cada um dos seis diáconos eleitos escolheu um lema e eu vou refletir a partir deles, pois eles falam do fundamento da vocação, da resposta dos chamados e da espiritualidade que os sustenta.    

 

 

2. O fundamento da vocação

“Sei em quem depositei minha confiança” (2 Tm 1,12), é o lema escolhido pelo Angélico. Sim, Cristo é o sentido, a razão e o fundamento da vocação cristã e missionária na Igreja. Ele é a pedra angular deste grande edifício espiritual. Ele é nossa esperança! Somos operários de uma obra que não é nossa, mas de Cristo. À confiança que Ele deposita em nós, frágeis instrumentos, Ele espera reciprocidade.  

 

Cristo usa de misericórdia para conosco, conforme as palavras de Paulo: “sou agradecido para com aquele que me deu força, Cristo Jesus, Nosso Senhor, que me julgou fiel, tomando-me para o seu serviço, a mim que antes perseguia, mas alcancei misericórdia” (1 Tm 1,12).    

 

 

3. Resposta e propósito do discípulo

A resposta de Paulo foi total, entregando sua vida a Cristo e anunciando o evangelho às nações. É exemplo e referência aos ministros da Igreja que fazem do seu apostolado uma total entrega à vontade de Deus. E aqui entra o lema do Gabriel: “Eis que venho fazer com prazer a vossa vontade” (Sl 39/40). Esse propósito do salmista, referindo-se à vontade de Deus Pai, é repetido várias vezes por Jesus Cristo como expressão do seu propósito de submeter-se à vontade de Deus.  

 

O lema do Antonio – “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5) – segue na direção. Nas bodas de Caná, Maria, ao avisar que faltava vinho, recebeu uma resposta negativa, pois Jesus disse que sua hora ainda não tinha chegado. Mesmo assim, ela confiou que Ele faria o melhor e por isso exortou aos que estavam servindo: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Que a humildade e convicção de Maria inspire em nós um sereno e confiante abandono às palavras e à vontade do Filho, a exemplo de Pedro ao exclamar: “a quem iremos nós, Senhor, só Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).      

 

 

4. Espiritualidade – Mística – Radicalidade

Depositar a confiança em Cristo, entregar-se à vontade do Pai, fazer tudo o que Cristo disser: eis os fundamentos de uma espiritualidade cristã consistente e perseverante. O discípulo é o que toma a cruz e segue Jesus que “não veio para ser servido mas para servir e dar sua vida” (Mc 10,45) e que disse, conforme o lema do Iluminato, “o maior dentre vós será aquele que vos serve” (Mt 23,11). E Jesus ainda acrescenta: “eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).  

 

“Servidor” é o significado da palavra diácono. Servidor é aquele que ama e faz o bem sem esperar recompensa, como o menor de todos, reconhecendo-se pequeno para servir os pequenos, os pobres, e aí sim, experimentar a verdadeira alegria e a verdadeira felicidade, conforme o lema do José: “Servi ao Senhor com alegria” (Sl 100,2). Refiro-me aqui à alegria de viver a loucura da cruz e seguir o Cristo nu –conforme uma das canções da Fraternidade, “pois o que é loucura de Deus é mais sábio que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte que os homens” (1 Cor 1,25). E mais: “aquele que se gloria, se glorie no Senhor” (1 Cor 1,31).  

 

Nas bem-aventuranças, Cristo disse que “quando vos injuriarem e vos perseguirem, alegrai-vos e exultai” (Mt 5,11.12). De fato, a alegria do cristão é diferente. Quando nós, discípulos-missionários, pensamos que estamos servindo a Cristo, na verdade é Ele que está nos servindo.   Tomemos o evangelho (Lc 12,35-44) que foi proclamado: “felizes os empregados que o Senhor encontrar acordados quando chegar ... Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar à mesa e, passando, os servirá” (v. 37). De fato, na última ceia, Jesus realizou este gesto: abaixou-se, cingiu-se com uma toalha, lavou os pés dos apóstolos e disse: “dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais ... se compreenderdes isto e o praticardes, felizes sereis” (Jo 13,15.17).  

 

Queridos diáconos eleitos, não hesitem em abaixar-se no serviço humilde aos irmãos, a todos, indistintamente, mas de modo especial aos filhos prediletos, aos quais vocês são destinados. Por fim, temos o nível maior e mais perfeito da radicalidade do evangelho: o martírio, simbolizado na semente de trigo caída na terra e que morre para produzir fruto, conforme o lema do Félix: “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto” (Jo 12,24).  

 

O martírio é a expressão máxima do testemunho de amor. Santo Inácio de Antioquia, vendo aproximar-se o momento do martírio, o deseja ardentemente e exclama: “Assim serei um verdadeiro discípulo de Cristo. Sou trigo de Deus. Quero ser triturado e moído pelos dentes das feras, a fim de me converter em pão puro de Cristo”.      

 

 

5. Exortação final

Queridos filhos! É digno o dom e sublime a graça da ordenação diaconal que vocês estão prestes a receber, pela imposição de minhas mãos e pelo dom do Espírito Santo. Reitero-lhes a exortação do apóstolo Paulo ao seu discípulo Timóteo, que ouvimos na segunda leitura: “não descuides o dom da graça que tu tens e que te foi dada por indicação da profecia, acompanhada da imposição das mãos do presbitério. Mostra-te perseverante. Assim te salvarás a ti mesmo e também àqueles que te escutam”.  

 

Tudo o que foi refletido está em sintonia com a espiritualidade cristã, a mística do serviço e a radicalidade evangélica, tão bem expressa nos votos de pobreza, castidade e obediência que vocês fizeram como religiosos; e no compromisso de celibato que hoje abraçam, em vista do sacerdócio ministerial.  

 

A oração é o segredo da perseverança. O diácono é homem de oração, a serviço da casa de Deus, onde o povo se congrega em oração. “Quão amável, ó Senhor, é vossa casa! Minha alma anseia pelos átrios do Senhor! Felizes os que habitam vossa casa” (Sl 83/84).    

 

Deus abençoe a Fraternidade dos Pobres de Jesus!

 

Deus abençoe os novos diáconos! Amém!    

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 15 de julho de 2023