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Palavra do Bispo | Zilda Arns e a Pastoral da Criança

Zilda Arns e a Pastoral da Criança

Acontece em Curitiba, dias 10,11 e 12 de janeiro de 2020, um tríduo pela caminhada da Pastoral da Criança e em memória da Dra. Dra. Zilda Arns Neumann, por ocasião do décimo aniversário de seu falecimento. Médica sanitarista, fundou, há trinta e cinco anos, a Pastoral da Criança. Em 2010, em visita ao Haiti, para lá iniciar esse trabalho, foi vítima do terremoto que atingiu aquele país, matando cerca de cem mil pessoas.  

 

A Pastoral nasceu da conjunção de esforços para diminuir a mortalidade infantil. Em 1982, O Cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, participou de um encontro da ONU, na Suíça, e lá conversou com o então diretor executivo da Unicef, James Grunt. Esse diálogo inspirou o Cardeal a convidar sua irmã Zilda a levar adiante esse objetivo. Ela, por sua vez, contou com o suporte de Dom Geraldo Majella Agnelo, então Arcebispo de Londrina.

 

Em 1983, o projeto teve seu início na Paróquia de São João Batista, na cidade de Florestópolis, no Paraná. Nasce a Pastoral da Criança e se torna um organismo ligado à Comissão Episcopal de Pastoral para a Ação Sócio-transformadora, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, à qual veio se associar, em 2004, a Pastoral da Pessoa Idosa, também fundada pela Dra. Zilda Arns.

 

Desde então, a Pastoral da Criança vem ajudando, no Brasil e em outros vinte países, a reduzir a mortalidade infantil, visto que ela exercita práticas referentes à saúde, alimentação, educação, cidadania e espiritualidade, priorizando a infância, que é a faixa etária mais vulnerável entre os pobres.

 

Dra. Zilda, exemplo de mulher, esposa e mãe, cristã e profissional, deixa um grandíssimo legado. Sua aguçada inteligência, voz suave e permanente sorriso revelavam sua firmeza e determinação, bem como sua habilidade em dialogar e articular. De modo respeitoso, argumentava, persuadia e convencia. Era ouvida e respeitada quando dialogava com representantes do Governo.

 

Soube transformar sonho e utopia em caridade operativa e eficaz. Unindo profissionalismo, tino empreendedor e idealismo, conseguia fazer muito com pouco recurso. Por meio da estrutura e capilaridade da Igreja, criou, através da pastoral da criança, uma ampla e articulada rede de serviços, angariando credibilidade para selar parcerias e obter apoio junto aos órgãos governamentais.

 

Dra. Zilda visitava cada diocese, orientando e entusiasmando líderes e multiplicadores no acompanhamento a gestantes, no aleitamento materno, aplicação do soro caseiro, pesagem das crianças, vacinação, processo esse que a pastoral denomina de “celebração da vida”. A inspiração vem do evangelho, especialmente da passagem da multiplicação dos pães, que Dra. Zilda gostava de citar, quando Jesus ordena aos discípulos: “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,37).

 

Dom Paulo Evaristo, ao saber da morte de sua irmã, escreveu: “minha caríssima irmã Zilda sofreu com o bom povo do Haiti o efeito trágico do terremoto. Que nosso bom Deus acolha no céu aqueles que na terra lutaram pelas crianças e os desamparados. Não é hora de perder a esperança”. De fato, há dez anos, seu martírio no Haiti a eternizou. E, através da Pastoral da Criança, dia a dia seu testemunho de amor e solidariedade ecoa, semeando esperança e abrindo, no Brasil, no Haiti e no mundo, novos caminhos de vida, paz e justiça.

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

10 de janeiro de 2020