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Palavra do Bispo | Sant´Ana

Sant´Ana

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DE SANT'ANA,

PADROEIRA DIOCESANA

(26.07.2019)

 

Estimados irmãos no sacerdócio,

Distintas autoridades,

Queridos irmãos e irmãs,

 

Atraídos pelo Senhor, viemos hoje com grande alegria a esta Igreja Catedral, para celebrar a Solenidade de Sant'Anna, esposa de São Joaquim, mãe da Virgem Maria e avó de Jesus Cristo. Em Mogi das Cruzes, é celebrada como Padroeira da Catedral, da Cidade e da Diocese. A bondade de Deus nos reúne em torno deste Altar para juntos cantarmos as maravilhas que Ele Se dignou operar em Sant'Anna e no seu esposo São Joaquim, cuja festa também celebramos. A esse santo casal, pode-se perfeitamente aplicar as palavras de Jesus: “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem” o que muitos profetas e justos desejaram ver e ouvir (cf. Mt 13,16.17).

 

A partir dos evangelhos apócrifos, a Tradição viva da Igreja perpetuou através das gerações os nomes ditosos dos pais da Santíssima Virgem. E o coração devoto do povo cristão consagrou o culto universal desse santo casal a quem o Senhor deu a alegria de gerar aquela que seria a Mãe do Filho de Deus. Constituídos em uma só carne pela união esponsal, Sant'Anna e São Joaquim resplandecem com a glória que Deus lhes deu de serem os avós que estreitaram em seus braços o Divino Salvador. Celebrando os avós de Jesus Cristo, esta festa enaltece o desígnio de Deus a respeito da família, sua sacralidade e sua missão.

 

Fazendo-Se homem por nós e para a nossa salvação, Cristo Jesus desejou nascer de uma mulher (cf. Gl 4,4), no seio de uma família. Os Evangelhos narram que, gerado pelo Espírito Santo no seio de Maria, Jesus foi confiado também aos cuidados de São José que tornou-se o pai adotivo do Filho de Deus, completando assim o círculo mais íntimo da Sagrada Família de Nazaré.

 

Foi no seio de Sant'Ana que, no próprio instante de sua concepção, a Virgem Maria foi inteiramente preservada do pecado original. Nunca, desde nossos primeiros pais, Adão e Eva, uma criatura fora concebida sem a nódoa do pecado. Desta forma, no ventre ditoso da Senhora Sant'Anna, quis o Senhor redimir preventivamente aquela que seria Sua Mãe segundo a carne.

 

A experiência mostra que as relações familiares são mais amplas do que aquelas estabelecidas entre pais e filhos. No círculo mais alargado das nossas famílias há também os tios, os primos e os avós. Na Sagrada Família de Nazaré, a existência de Sant'Anna e São Joaquim enleva a imaginação iluminada pela fé e faz vislumbrar o ambiente de santo convívio entre Cristo, seus pais e  seus avós.

 

A partir dos laços de família, Jesus anuncia a grande família que é a Igreja, ao proclamar: “todo aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12,50). E como afirma o apóstolo Paulo: “somos concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2,19).

 

As expressões avô/avó evocam a sabedoria e a ternura que caracterizam a maturidade e a velhice. Trazem à mente as lembranças mais doces dos tempos da infância, do aconchego da casa dos avós, com seus gestos de carinho e suas palavras cheias de sabedoria e unção. A lembrança dos avós desperta nos netos a consciência do caráter sobrenatural da família e sua missão imprescindível na transmissão dos valores religiosos e morais que forjam a personalidade dos homens e mulheres do nosso tempo.

 

Segundo a Tradição, Ana e Joaquim moravam em Jerusalém, junto à piscina de Betesda. Joaquim era da casa de Davi e Ana da descendência de Aarão, de sorte que a união de ambos daria a Cristo uma ascendência tanto davídica quanto sacerdotal. Fiéis seguidores das leis judaicas, eles costumavam ser generosos com os pobres e dividiam seus bens em três partes: uma para o próprio sustento, outra para o Templo e a terceira para a caridade.

 

Contudo, faltava-lhes a grande bênção que Deus podia dar a um casal de judeus: descendência. Os anos foram passando, Joaquim e Anna envelheceram sem filhos, mas não deixaram de rezar com confiança a Deus, para quem nada é impossível (cf. Lc 1,37). Humilhados por não terem filhos, recomendavam-se com frequência à misericórdia divina suplicando que a graça onipotente de Deus viesse em seu auxílio.

 

Finalmente, depois de anos de espera confiante, um anjo anunciou que suas preces seriam ouvidas. A espera angustiante preparou o coração de Sant'Anna e São Joaquim para acolherem o milagre com que Deus sinalizaria a entrada no mundo da Virgem puríssima que geraria o Seu Filho segundo a carne.  O ventre estéril de Anna – cujo nome significa "graça" – foi o palco escolhido para o grande prodígio de conceber na velhice e do milagre ainda maior e sem precedentes na história humana: a Imaculada Conceição de Maria.

 

Burilado no fogo da paciência e da humilhação, o coração de Sant'Anna foi preparado por Deus para acolher aquela que seria a humilde serva do Senhor. E foi precisamente de seus pais que a Virgem Imaculada aprendeu o que significa docilidade à vontade de Deus.

 

Ao contemplar a Imagem de Sant'Anna, vemo-la sentada, instruindo sua filha sobre as verdades da fé e os mistérios das Escrituras. Símile imagem vemo-la alçada em destaque no presbitério da Catedral de Mogi das Cruzes. Venerável pela sua antiguidade e atestado valor artístico, atrai, sobretudo pela sua importância espiritual, olhares atentos em profunda e confiante oração a Deus.

 

Mais uma vez, na devoção a Sant'Anna, sobressaem o caráter familiar e a missão da família como transmissora dos valores sobrenaturais do Evangelho – valores fundamentais sobre os quais se edifica a sociedade cristã e a Cidade de Deus.

 

Em um mundo que, em larga medida, perdeu as referências familiares e cujas mensagens desvalorizam e destroem essa célula primordial da sociedade, a celebração anual dos justos avós de Cristo tem um sabor de profética denúncia da desestruturação das famílias e de jubiloso anúncio da sabedoria bíblica ao proclamar que esses antepassados “são homens de misericórdia, cujos gestos de bondade não serão esquecidos. A descendência deles mantém-se fiel às alianças, os povos proclamarão a sua sabedoria e a assembleia vai celebrar o seu louvor” (cf. Eclo 4,10.12.15).

 

Queridos irmãos e irmãs, para a Cidade de Mogi das Cruzes o 26 de julho é dia de ação de graças e de prece. Ação de graças pela manifestação divina ao longo dos 458 anos da nossa História! Celebrando com alegria este dia da Festa de Sant'Ana, nossa celestial Patrona, elevemos a Deus uma prece fervorosa por nós, pela nossa Cidade e por toda a Diocese de Mogi das Cruzes. Sant'Anna, que nos é tão próxima, nos acolha junto a si e nos ajude a compreender que fomos chamados à santidade. Aproximemo-nos todos desta avó tão querida, acorramos para junto dela e peçamos que nos ensine a ser dóceis à vontade de Deus à semelhança de sua filha Maria. Sant'Ana, nossa Padroeira, rogai por nós! Amém.

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Bispo Diocesano

Mogi das Cruzes, 26 de julho de 2019